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Como sabemos?

No Mito da Caverna, de Platão, o filósofo grego retrata prisioneiros que viviam acorrentados dentro de uma caverna escura. As pessoas passavam por trás deles com luzes e carregando objetos, criando sombras na parede da caverna. Para os prisioneiros, essas sombras eram a sua realidade. Platão usa essa alegoria para nos mostrar os limites do nosso conhecimento. Nos referimos a essa alegoria com frequência em nossas aulas de TOK e voltaremos a ela no final deste artigo.


Em 27 de junho de 2023

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O que significa TOK?

TOK vem do inglês, Theory of Knowledge (Teoria do Conhecimento), e constitui parte do núcleo do Diploma do IB, juntamente com o CAS (Criatividade, Atividade, Serviço) e o Extended Essay. Conhecido em Filosofia como epistemologia, o TOK gira em torno de uma pergunta: Como sabemos?

  • Como sabemos que a Terra gira ao redor do sol, e não o contrário?
  • Como sabemos que (em um triângulo retângulo) o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos outros dois lados?
  • Como sabemos que o crime foi cometido pelo Coronel Mostarda, na biblioteca, usando um revólver?

Para ajudar a responder a essas perguntas, os alunos começam o curso aprendendo sobre o papel da observação, da percepção sensorial, da indução, da linguagem e da dedução lógica na construção do conhecimento. Eles também aprendem a reconhecer as limitações de cada uma dessas abordagens. Mas isso é apenas o começo – como veremos.

O mapa não é o território

Um mapa não é o mesmo que o território que ele representa. Isso se torna óbvio assim que começamos a pensar sobre isso. Dê uma olhada no Brasil em um mapa-múndi. Na vida real, o Brasil não é menor que a sua mão; nem é amarelo; e eu acho que se você fosse uma águia, voando majestosamente sobre o Pantanal, você não seria capaz de olhar para baixo e ver a palavra BRASIL escrita em negrito e com letras maiúsculas pelo país.

De acordo com Alfred Korzybski, todo o nosso conhecimento é assim. Usamos modelos e mapas para construir e representar o que sabemos. Como aprendizes, fazemos mapas mentais. Mas essas representações não são a mesma coisa que o mundo em si. Elas são uma simplificação e uma distorção da realidade externa, mas, ao mesmo tempo, são úteis para que possamos compreender o mundo e saber como agir. Elas também são a base do que aprendemos em diferentes disciplinas escolares.

Áreas do conhecimento

Existem muitas maneiras de associar diferentes assuntos. Se entrarmos em uma livraria ou biblioteca, encontraremos certos tipos de livros convivendo felizes (na maioria das vezes) lado a lado. História, política e economia estarão juntas em um corredor; biologia, física e química serão encontradas em outro. Ou então imagine que você estuda Bioquímica em um grande campus universitário e quer encontrar seu amigo para o almoço no departamento de Artes. Talvez você precise sair mais cedo, pois provavelmente esses dois setores estão bem afastados um do outro.

Em TOK, as disciplinas são divididas em cinco áreas distintas:

  • Ciências Naturais
  • Ciências Humanas
  • História
  • Matemática
  • Artes

Biologia, Química e Física fazem parte das Ciências Naturais; Economia e Geografia são consideradas Ciências Humanas. Por que a História não faz parte das Ciências Humanas? História é uma ciência? As respostas para essas perguntas dependem de quem responde e também do que se entende por ciência.

É preciso examinar o escopo, o propósito e a metodologia de cada uma dessas áreas. O que está incluído neste ramo e o que não está? Como adquirimos conhecimento nesta área?

Minha série favorita de aulas nesta parte do curso é quando nos ocupamos com a pergunta “O que é arte?”. Uma série de imagens são mostradas aos alunos: Os doze girassóis numa jarra, de Van Gogh, A Importância de Ser Prudente, de Oscar Wilde, Lionel Messi fazendo o que Lionel Messi faz, um triângulo retângulo etc. Isso tudo é arte? Por quê? Por que não?

Todos concordam que os Girassóis, de Van Gogh, são arte. Mas quando expliquei recentemente que, para mim, o triângulo de Pitágoras é belo em sua simplicidade, proporção e relações, um aluno respondeu: “Não, Alistair! Nós não vemos beleza; nós vemos dor!”. Parece que a beleza realmente está nos olhos de quem vê. Dizem que na terra dos meus antepassados escoceses há até pessoas que apreciem o som das gaitas de fole.

Avaliação: exposição e ensaio

Não há provas nesta disciplina. Em vez disso, os estudantes apresentam dois trabalhos: a exposição e o ensaio.

Para a exposição, eles escolhem entre um grande leque de questões:

  • Será que alguns tipos de conhecimento são mais úteis do que outros?
  • Como podemos distinguir entre conhecimento, crença e opinião?
  • Será que alguns conhecimentos pertencem apenas a determinados grupos de pessoas?

Depois de escolher uma pergunta, o estudante pode selecionar três objetos para investigar a questão: podem ser objetos históricos, pessoais, textos publicados – a escolha é interminável. Para abordar a terceira pergunta citada acima, uma estudante escolheu a sua própria composição de piano impressa, juntamente com a Bíblia de Gutenberg e o Index Librorum Prohibitorum.

O resultado final foi uma discussão em que ela apresentou um objeto de cada vez e o relacionou com a questão escolhida.

Para a redação (1600 palavras), cada estudante pode escolher entre seis perguntas. Aqui estão três de 2022:

  • A reprodutibilidade é necessária na produção de conhecimento? Discuta e relacione duas áreas do conhecimento.
  • As representações visuais são sempre úteis para comunicar o conhecimento? Discuta e relacione Ciências Humanas e a Matemática.
  • Em que medida o conhecimento que produzimos é determinado pelas metodologias que utilizamos? Discuta e relacione História com outra área do conhecimento.

São perguntas difíceis. Elas seriam um desafio até para pós-graduados, quanto mais para estudantes que ainda estão no Ensino Médio. Por isso é sempre um motivo de orgulho e admiração que os nossos alunos consigam abordar este desafio com inteligência e perseverança. 

Saindo da Caverna de Platão

O professor de Platão, Sócrates, é famoso pela citação: “Só sei que nada sei”. Há tanta coisa que não sabemos. Devemos ter a humildade de aceitar os limites das nossas tentativas de compreender o mundo e uns aos outros. Nas palavras de São Paulo: “Vemos através de um copo, sombriamente” (1 Coríntios 13:12). Embora não possamos escapar inteiramente à obscuridade das nossas cavernas metafóricas, por meio do pensamento e da reflexão contínuos, somos capazes de dar alguns pequenos passos em direção à luz.

Referência: https://conceptually.org/concepts/the-map-is-not-the-territory. Acesso em 28 de abril de 2023.

Imagens: Vincent van Gogh, Public domain, via Wikimedia Commons; Tommaso Agostino Ricchini editore, Public domain, via Wikimedia Commons; Original by Johannes Gutenberg

(printer), Scan by Jossi, Public domain, via Wikimedia Commons.